Quem atingiu a essência do sagrado entendeu que a autêntica religião é, acima de
tudo, uma realidade interna, porque expressa as nossas mais íntimas relações com
Deus.
O despertar da religiosidade
proporciona a paz de espírito. Paciência é um estado de alma em que a criatura
não é atingida pelas inquietações ou irritabilidades, visto que se libertou do
desassossego e da agitação do ego.
Jung desenvolveu uma teoria
fascinante, uma análise notável que contribui efetivamente para aperfeiçoar o
comportamento e pensamento humanos.
Desde a infância, ele foi
influenciado de forma marcante por questões religiosas e espirituais porquanto
seu pai e vários parentes eram pastores luteranos. Estudou e investigou
profundamente a natureza humana, dedicando-se também à análise das filosofias
orientais e da mitologia.
Jung é considerado um sábio
instrutor; estudou medicina, mas jamais abandonou o compromisso de manter o
interesse pelos fenômenos psíquicos e pelas ciências naturais e humanas. Foi um
psiquiatra por excelência, um missionário que pesquisou os distúrbios da
personalidade, contribuindo para o entendimento dos diversos aspectos do
comportamento humano e colaborando para o crescimento e enriquecimento das
criaturas em sua trajetória de iluminação individual.
Jung, como todo indivíduo que
utiliza a lógica, a coerência e a razão, sentiu-se distanciado da devoção
religiosa alicerçada no pietismo – afirmação da superioridade da fé sobre a
razão. Afastou-se das experiências teológicas e das prescrições litúrgicas de
seu pai e de outros parentes, que preconizavam a permanência incondicional pela
letra da convenção e foi em busca do espírito de Deus como uma realidade
viva.
A religião vai muito além dos
limites do intelecto, no entanto não o refuta nem o contesta. A genuína
religiosidade não se vincula a nenhuma organização externa; ela nos remete ao
despertar íntimo, ao relacionamento com a própria alma.
Da mesma forma, Allan Kardec,
como homem de ciência que era, educado em Yverdon, na Escola de Johann Heinrich
Pestalozzi – célebre pedagogo suíço e discípulo de Jean-Jacques Rousseau -,
asseverou: “não há fé inquebrantável senão aquela que pode encarar a razão face
a face em todas as épocas da humanidade”. “para crês, não basta ver, é preciso,
sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o
dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque quer se impor
e exige a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o
raciocínio e o livre-arbítrio”.
Por isso, o espiritismo não tem a
pretensão de ter a última palavra sobre todas as coisas, mesmo sobre aquelas que
são da sua competência.
Os Guias da Humanidade disseram a
Kardec que “não há para o estudioso, nenhum sistema filosófico antigo, nenhuma
tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque tudo contém os germes de
grandes verdades graças à chave que nos dá o espiritismo para uma multidão de
coisas que puderam, até aqui, vos parecer sem razão e da qual, hoje, a realidade
vos é demonstrada de maneira irrecusável”.
Para Jung, toda criatura traz uma
aptidão para a autotransformação, o que ele chamou de individuação, e definiu-a
como um processo de desenvolvimento pessoal em que a criatura se torna uma
personalidade unificada, ou seja, um indivíduo, um ser humano indiviso e
integrado.
A individuação está inteiramente
voltada para o equilíbrio entre o ego e o self e para o aprimoramento e
interação constante e criativa entre eles.
As criaturas ligadas
excessivamente ao sistema ilusório do ego são afeitas a um zelo religiosos
obsessivo que pode levá-las aos extremos da intolerância. Possuem uma fé cega, o
hábito de polemizar com exaltação, visto serem impacientes e inquietas.
Exageradamente ajustadas a uma vida impecável, denominam-se pessoas de hábito.
Estão presas a este padrão de pensamento: só eu sei como as coisas são ou devem
ser feitas.
O fanatismo é filho dileto do
ego; é uma adesão cega a uma idéia, sistema ou doutrina. Os fanáticos se irritam
facilmente com tudo aquilo que possa ser contrário ao que eles consideram
tradicional, imutável e verdadeiro, defendendo um status quo rigoroso quanto à
política, à sociedade e à religião.
Religiosos intransigentes, são
considerados pessoas dogmáticas. Exigem de si mesmos e dos outros uma vida
puritana e de retidão extremada como forma de compensar suas dúvidas indecorosas
e seus desejos reprimidos, que eles cultivam, de forma inconsciente ou não, no
próprio mundo interior. Baseiam sua maneira de agir em teorias estudos arcaicos
e seguem modelos e padrões obsoletos. São observadores literais de leis
consideradas como certas e indiscutíveis, e esperam que as pessoas as aceitem
sem qualquer questionamento.
Os indivíduos que estão
conectados com o self vivem as necessidades do presente e respondem a elas
através de uma análise criteriosa das pessoas, dos fatos e dos acontecimentos.
Utilizam-se do exame paciencioso e da reflexão sapiencial da consciência para
elaborar cogitações sobre a vida e sobre si mesmos.
Por estarem mais sintonizados com
o self, conquistaram a fé raciocinada e alicerçada na paz de espírito, na razão
e na coerência.
Têm como forma de procedimento
respeito aos direitos humanos – de liberdade de expressão, de individualidade,
de ir e vir, de intelectualidade, de consciência; enfim, os direitos
considerados inerentes ao homem como ser social, independentemente de raça,
país, sexo, idade e religião.
São pensadores, versáteis e
originais; têm propósitos definidos – buscam alcançar pacienciosamente em seus
estudos e reflexões uma síntese racional e lógica a respeito do físico e do
espiritual, do real e do imaginário, do indivíduo e da
sociedade.
Do livro: OS
PRAZERES DA ALMA - uma reflexão sobre os potenciais
humanos
FRANCISCO DO
ESPIRITO SANTO NETO/ESPÍRITO HAMMED